Atualizado em 21 de setembro, 2012 - 11:06 (Brasília) 14:06 GMT

Robô chega a pontos de difícil alance no corpo, de forma pouco invasiva
Uma "cobra" de 30cm se move pelo
corpo de um homem deitado em uma maca, avançando pelo seu fígado. Ela
para, "fareja" um ponto à sua esquerda e vira à direita.
Trata-se de um robô médico, guiado por um
cirurgião experiente e criado para alcançar pontos do corpo que os
médicos só conseguiriam ver durante um procedimento cirúrgico invasivo.
Por enquanto, o equipamento é apenas
um protótipo e não foi usado em pacientes reais - apenas em
laboratório. Mas seus criadores britânicos dizem que, quando o aparelho
estiver pronto e aprovado, será uma arma da medicina para encontrar e
remover tumores.
A "cobra mecânica" é uma entre várias
tecnologias de combate ao câncer que estão sendo apresentadas nesta
semana na Conferência de Engenharia Oncológica da Universidade de Leeds,
na Grã-Bretanha.
A maioria dos equipamentos exibidos ainda está
em fase inicial de desenvolvimento, mas Safia Danovi, representante da
organização Cancer Research UK, lembra que pesquisas em inovações são
extremamente importantes no combate ao câncer.
"Novas tecnologias que façam as cirurgias mais
precisas e eficientes são fundamentais", diz ela. "Graças a pesquisas,
inovações como cirurgias por pequenas incisões e a robótica estão
mudando as perspectivas para os pacientes de câncer, e essa tendência
precisa continuar."
Orifícios ou incisões
O câncer causa 13% das mortes anuais registradas
no mundo, aponta a Organização Mundial da Saúde. Ainda que alguns
tratamentos usem técnicas não invasivas, os médicos muitas vezes
necessitam adotar procedimentos cirúrgicos de risco.
Os "robôs-cobra", por sua vez, são tão
minimamente invasivos quanto possível dentro da tecnologia atual. Eles
usam orifícios do corpo ou incisões locais como pontos de entrada,
explica Rob Buckingham, diretor-gerente da OC Robotics, empresa de
Bristol (Inglaterra) responsável pelos equipamentos.
O aparelho permite que o cirurgião observe e
"sinta" o corpo do paciente, usando câmeras e dispositivos
ultrassensíveis. Com isso, pode complementar um sistema de cirurgia
robótica em uso há uma década: o sistema Da Vinci, desenvolvido nos EUA,
que é um robô com quatro braços equipados com pinças.
Ainda que o equipamento não realize a cirurgia
de forma autônoma, ele permite que os médicos realizem cirurgias
complexas de forma menos invasiva e mais precisa.
O Da Vinci é controlado por um cirurgião, através de pedais e alavancas.
Apesar do alto custo (US$ 2,2 milhões, ou R$ 4,4 milhões) do sistema Da Vinci, ele já é adotado por diversos hospitais no mundo.

Centro alemão DLR desenvolveu novos braços robóticos para cirurgias
Outra opção é um longo e fino braço mecânico
chamado Mirosurge, desenvolvido pelo centro espacial alemão DLR. Também é
um protótipo, mas engenheiros da DLR defendem que ele é mais versátil
que o sistema Da Vinci.
"Ele tem sensores que impedem que diferentes
braços mecânicos se choquem (durante um procedimento)", diz Sophie
Lantermann, da DLR, agregando que os custos do Mirosurge também são
menores.
Remoção do tumor
Um dos desafios no combate ao câncer é garantir
que, na cirurgia, todo o tumor seja removido. Para tal, os cirurgiões
precisam saber exatamente onde o tumor acaba, tarefa nem sempre fácil.
Na Universidade de Berna, na Suíça, cientistas
têm injetado um medicamento no corpo do paciente que, uma vez que
alcança o tumor, torna-se incandescente perante a luz.
Essa tecnologia de imagem também é aplicada a
instrumentos usados para "navegar" pelo corpo, da mesma forma que um GPS
ajuda a encontrar um caminho.
"A ideia é controlar os instrumentos cirúrgicos
para que um cirurgião possa ver, pela tela do computador, como esses
instrumentos se movem pelo corpo", explica Stefan Weber, do centro
ARTORG de Pesquisas de Engenharia Biomédica na Universidade de Berna.
"Se você observa o fígado, por exemplo, verá que
é um órgão homogêneo de cor vermelha e marrom. Mas para ver onde estão
os tumores, fazemos uma tomografia do paciente, um modelo 3D do órgão e
dos vasos sanguíneos e nesse modelo conseguimos enxergar o tumor, para
dizer ao cirurgião onde ele deve operar."
Weber conta que essa detecção dos vasos
sanguíneos, que alinha o modelo com a anatomia do paciente, e a precisão
do procedimento "é algo que os computadores não eram capazes de fazer
há cinco anos".
Uma técnica semelhante está sendo desenvolvida
na Holanda. Mas Rob Buckingham, da OC Robotics, explica que um dos
principais objetivos da conferência oncológica de Leeds é fazer com que
todas essas tecnologias trabalhem em conjunto.
"Se começamos a combinar, por exemplo, nosso
'robô-cobra' - para alcançar partes traseiras dos órgãos do corpo - com
sensores que podem identificar um alvo, pode haver benefícios clínicos",
diz ele.
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